sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Minha cidade

                Depois de um longo e tenebroso inverno, voltei. E o assunto que não me sai da cabeça é eleição. Tenho bastante receio de que os avanços conseguidos pelo Governo Lula sejam neutralizados numa eventual vitória do PSDB. Mas meu pior medo é de nada mude no meu estado, Rio de Janeiro, e que continuemos reféns do medo, da impunidade e do abandono.
                Brinco sempre dizendo que moro mal. Esta é uma brincadeira com muito mais do que um fundo de verdade. A cidade onde moro – São João de Meriti – é, de todas as cidades que compõem a Baixada Fluminense, a mais pobre, a mais desconhecida e talvez a mais ignorada pelos governantes. Aqui não temos nada em termos de lazer. Temos apenas um shopping, porque a única coisa que realmente tem valor é o nosso dinheiro.
                Perco, normalmente, quatro horas do meu dia no trânsito, indo e vindo do trabalho. Estou constantemente esgotada tamanho o cansaço diário devido a essa “maratona”. E o que os políticos prometem? Pra nós, da Baixada, nada. Todos os projetos visando à Copa ou às Olimpíadas, por exemplo, são para a cidade do Rio de Janeiro. Mais uma vez, ficamos de fora.
Seria interessante que os governantes percebessem a importância de se criar uma condição agradável de moradia e permanência nos municípios da Baixada Fluminense. Pode parecer redundante, mas eu gostaria muito de gostar de morar onde eu moro. O que tenho, porém, é vergonha. Vergonha da sujeira, do quanto a cidade é feia, do tempo que levo para chegar a minha casa...
Meu maior sonho é que algo fosse feito, mas não tenho mais esperança alguma. Acho que o que vai acontecer é a minha mudança: provavelmente me mudarei daqui antes de a cidade mudar. Mas a minha dor continuará, porque o que eu mais queria era ter orgulho da minha cidade, poder admirar sua beleza e dizer que moro em São João de Meriti porque gosto. Pena que a cada dia esse desejo fica mais impossível.