domingo, 12 de setembro de 2010

Adolescência

Todos que me conhecem sabem que sofri um bocado na infância e, principalmente, na adolescência. Eu era gorda e sofria todo tipo de agressão verbal devido a minha forma física. "Baleia" era o apelido mais carinhoso.
Isso, que para a minha família não era problema nenhum, pra mim era a morte! Chorava, chorava, mas não conseguia mudar, e via na comida minha única amiga e meu maior prazer.
O tempo passou, eu cresci, emagreci, mas ainda me vejo no espelho como aquela menina que não atraía os olhares de ninguém. Aliás, atraía, sim, olhares de deboche.
Por que estou escrevendo sobre isso? Porque estou assistindo "Glee", um seriado americano que retrata os adolescentes "losers" (eu mesmo fui uma) numa escola em que o bullying é quase institucional. Estes jovens veem num clube de música a possibilidade de inclusão entre os seus iguais, e nos faz perceber que mesmo os tipos mais populares no universo escolar também têm suas inseguranças e problemas.
Parece bobo eu, uma mulher de 31 anos, ficar assistindo um seriado que retrata as dores de um grupo de adolescentes. Afinal, eles não têm problemas de verdade, certo?
Errado, erradíssimo! Eu sei que o sofrimento que sentimos quando adolescentes é real, beira a dor física. Ser chamada de gorda era quase uma facada literal que eu recebia todos os dias e o descrédito da minha família com este que era "O" meu problema fazia tudo parecer ainda pior.
Por isso, minha paixão atual chama-se "Glee". Meu personagem preferido é Kurt, um menino que, num episódio antológico que me tirou lágrimas dos olhos, se revela gay para o mais machão dos pais. Se eu sofri horrores por ser gorda (algo possível de ser mudado com um pouquinho de força de vontade), imagine ser gay e ser adolescente? Imagine ter de lidar com um tipo de preconceito que é aceito e tolerado por quase toda a sociedade e ser visto como único culpado por esse sofrimento?
Enfim, sei que a adolescência é um período muito difícil. Algumas vezes, ela não termina. Mas sei que os jovens de hoje têm mais informações do que eu tinha e podem se ver representados, ainda que na ficção. Além disso, podem perceber que seus problemas existem de fato e têm solução. Até Hollywood já percebeu isso. Eu queria que, quando eu era adolescente, houvesse um seriado, uma novela, um filme em que eu me visse representada. Pena que "o progresso sempre chega tarde". Espero, pelo menos, que hoje os meninos e meninas vejam que "it's just a moment. This time will pass".
P.S.: Este aqui embaixo é o Kurt.

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